Li Jingzhi passou mais de três décadas procurando seu filho, Mao Yin, que foi raptado em 1988 e vendido. Ela já havia quase desistido de encontrá-lo, mas em maio ela finalmente recebeu a ligação pela qual esperava há tanto tempo.
Mao Yin era filho único — a política de filho único da China estava no auge na década de 80 quando o filho dela desapareceu, então não havia a possibilidade de ela ter outro.
O começo do pesadelo
O garoto foi sequestrado após o pai pegar o menino no jardim de infância e parar no caminho em um hotel da sua família para pegar um pouco de água. Ele deixou a criança sozinha por alguns segundos, e quando voltou seu filho havia desaparecido.
“Eu pensei que talvez meu filho estivesse perdido e não fosse encontrar seu caminho para casa e que pessoas de bom coração talvez fossem encontrá-lo e devolvê-lo a mim.”, relatou o pai em entrevista a BBC.
A mãe começou a perguntar se alguém havia visto o filho nas cercanias do hotel. Depois imprimiu 100 mil folhetos com a foto do filho e distribuiu pelas estações de trem e ônibus de Xi’an. Ela também colocou um anúncio em um jornal local. Mas nada funcionou.
A politica do filho único
À época a politica do filho único introduzida pelo governo levou a um aumento no número de sequestros de crianças, especialmente de meninos.
Casais em zonas urbanas só podiam ter um filho. Nas zonas rurais, um segundo filho era permitido apenas em casos onde o primeiro bebê fosse menina.
Casais com filha que quisessem ter um filho homem — que levasse adiante o sobrenome e os cuidasse na velhice — não tinham o direito de tentar ter outra criança. Eles estariam sujeitos a multas e qualquer filho adicional não teria direito a benefícios sociais.
Ela nunca desistiu de procurar o filho
Mas Jingzhi nunca parou de procurar pelo filho. Toda tarde de sexta-feira, quando terminava o trabalho, pegava o trem para as províncias vizinhas para procurá-lo, voltando para casa no domingo à noite, pronta para voltar ao trabalho na segunda-feira de manhã.
Sempre que ela tinha uma pista, como notícias sobre um garoto que parecia seu filho, ela ia investigar. Mas, infelizmente nunca encontrou o menino.
Depois de anos de procura, Jingzhi percebeu que havia muitos pais cujos filhos haviam desaparecido, não apenas na sua cidade, mas em outros lugares, e ela começou a trabalhar com eles. Eles formaram uma rede que abrange a maioria das províncias da China.
Quando seu filho já estava desaparecido há 19 anos, Jingzhi começou o trabalho voluntário com o site Baby Come Home, que ajuda a reunir famílias e seus filhos desaparecidos.
“Eu não me sentia mais sozinha. Havia tantos voluntários nos ajudando a encontrar nossos filhos – fiquei muito emocionada com isso”, diz Jingzhi ao site da BBC.
Através do seu trabalho com a Baby Come Home e outras organizações nas últimas duas décadas, Jingzhi ajudou a conectar 29 crianças com seus pais. Ela diz que é difícil descrever os sentimentos pelos quais passou quando testemunhou essas reuniões.
“Eu me perguntava: ‘Por que não poderia ser meu filho?’ Mas quando via os outros pais abraçando seus filhos, ficava feliz por eles. Também senti que se eles pudessem ter esse dia, eu definitivamente também poderia ter esse dia. Eu me senti esperançosa de que um dia meu filho voltasse para mim “, diz Jingzhi à BBC.
A pista que mudou toda a história
Então, este ano, no Dia das Mães, ela recebeu uma ligação do Departamento de Segurança Pública de Xi’an com a incrível notícia: “Mao Yin foi encontrado”.
Em abril, alguém havia lhe dado uma pista sobre um homem que fora retirado de Xi’an muitos anos atrás. Essa pessoa forneceu uma foto desse garoto quando adulto.
Com a foto à polícia usou a tecnologia de reconhecimento facial para identificá-lo como um homem que vive na cidade de Chengdu, na província vizinha de Sichuan, a cerca de 700 km de distância.
As autoridades foram então ao local, e informaram a história ao senhor de 34 anos e o convenceram a fazer um exame de DNA, que provaram que realmente ele era o filho de Jingzhi.
Após 32 anos e mais de 300 pistas falsas, a busca finalmente terminou.
Depois de tanto tempo de procura e tantas aparições em jornais e tv, a história de Jingzhi e seu filho já era bastante conhecida pela mídia local, então o encontro dos dois foi aguardado ansiosamente pela imprensa.
No dia da reunião, a China Central Television (CCTV) fez uma transmissão ao vivo que mostrava o filho entrando no salão de cerimônias do Departamento de Segurança Pública de Xi’an gritando “Mãe!” enquanto corria para os braços dela. Mãe, filho e pai choraram juntos.
Depois de 32 anos de busca e sofrimento, finalmente eles estavam juntos novamente.
Fonte: BBC